Os ritmos de vacinação, as taxas de mobilidade e as curvas de casos e mortes por Covid-19 colocam em lados opostos a dupla sul-americana Chile e Uruguai e os parceiros Estados Unidos e Israel.
As realidades desses quatro países, como mostram dados que você verá nesta reportagem, apontam que, para ser efetiva, a vacinação contra a Covid precisa ser rápida e acompanhada de restrição de movimento.
O que diferencia, por exemplo, as coberturas vacinais do Chile e dos EUA – que, percentualmente, são próximas? Por que o Chile e o Uruguai viram aumento na vacinação e nos casos e mortes, enquanto os EUA aumentaram a vacinação com menos infecções e óbitos? O que tornou Israel um exemplo de sucesso?
Como esses países se comparam ao Brasil – inclusive considerando que há diferença nas vacinas usadas?
Entenda, em tópicos, a relação entre mobilidade, velocidade de imunização e cobertura vacinal nesses países e como eles podem inspirar estratégias brasileiras:
- Velocidade no início: EUA x Chile
- Mobilidade: Chile x EUA
- Casos e mortes: Chile e EUA
- Uruguai e Chile: semelhanças
- Israel: lockdown e vacinação recorde
- Efetividade das vacinas
- E o Brasil?
1) Velocidade no início: EUA x Chile
Os Estados Unidos e o Chile começaram as campanhas de vacinação em datas próximas: os EUA, no dia 14 de dezembro, e o Chile, o primeiro da América do Sul, no dia 24.
Em 1º de março, cerca de dois meses e meio após o início da vacinação, os Estados Unidos já tinham 7,6% da população vacinada, segundo o levantamento do “Our World in Data”, ligado à Universidade de Oxford.
Na mesma data, o Chile, que havia iniciado a campanha dois meses antes, tinha vacinado 0,3% de seus habitantes:
(A população americana é de cerca de 330 milhões; a chilena, de 19 milhões, ou seja: em teoria, deveria ser mais fácil para os chilenos alcançarem uma alta porcentagem de cobertura vacinal mais rápido).
A diferença de cobertura entre os dois países vai diminuindo até que, no dia 16 de março, o Chile passa os EUA, com 12,1% da população vacinada (contra 11,7% dos EUA).
Hoje, a cobertura vacinal nos dois países é próxima percentualmente, com um Chile um pouco à frente: 52% da população vacinada, contra 45% dos Estados Unidos:
Os EUA tiveram, entretanto, cerca de dois meses e meio de “vantagem” em relação ao Chile na velocidade da vacinação. Quanto mais reta é a parte inicial, esquerda, da linha do gráfico acima, mais rápida foi a velocidade de vacinação no início da campanha.
” Uma das coisas que mais importa numa subida exponencial é cortar a cadeia no começo, por isso a importância da antecipação. Olha a diferença que esses dois meses fazem no [mundo] real”, explica o cientista de dados Isaac Schrarstzhaupt, coordenador da Rede Análise Covid-19 que analisou os dados para O SITE
“O pontinho em que as linhas [de EUA e Chile] cruzam a barreira do 10% [da população vacinada] é muito próximo”, diz Schrarstzhaupt. “A principal diferença é que o Chile ficou nada, nada, nada, nada e daí 10%… já os EUA foram subindo constantemente e começaram a subir muito antes [na vacinação], principalmente não tendo o aumento prévio de mobilidade que o Chile teve”, pontua.
O que leva ao segundo ponto que influencia a curva da pandemia: as restrições de mobilidade.
2) Mobilidade: Chile x EUA
O Chile e os Estados Unidos são um exemplo do papel fundamental da mobilidade nos efeitos da vacinação.
“Estados Unidos e Chile estão com a cobertura vacinal similar, mas os EUA estão em queda e o Chile está em alta. O correto é analisar o andamento temporal, do que é que foi acontecendo: mobilidade, vacinação, casos. Você percebe claramente que a mobilidade tem um papel absurdo nesse momento”, avalia Isaac Schrarstzhaupt.
Conforme o gráfico abaixo, é possível ver que a mobilidade no Chile aumentou bastante entre outubro de 2020 e janeiro deste ano: