PETRÓPOLIS – As fortes chuvas provocaram oito mortes no Estado do Rio de Janeiro. O cenário mais crítico é em Petrópolis, na Região Serrana, onde uma família foi soterrada e um resgate emocionou os bombeiros e moradores.
“Ela está viva, ela foi encontrada viva! Ela foi encontrada viva, ela foi encontrada viva”
Aila, de 4 anos, ficou quinze horas soterrada. Durante as buscas, em alguns momentos os bombeiros ouviram o choro dela.
Aila estava abraçada ao pai, que foi retirado sem vida. Douglas José de Souza tinha 24 anos. Ele usou o corpo como escudo para protegê-la.
“O Douglas, quando acharam ele, ele estava em cima da filha e a filha foi resgatada com vida, graças a Deus”, diz Caio Roberto, amigo de Douglas.
Um vizinho conta que encontrou Douglas na porta de casa, minutos antes do desabamento. “Eu vi o Douglas conversando aqui no telefone. Até falei: ‘pô, pegou o Douglas. Se pegou aqui, pegou na escada. Mas acontece que ele foi tão ligeiro, que ele pulou para dentro da sala para abraçar a filha”, diz.
“Meu filho foi um guerreiro, porque esse tempo todo salvou a filhinha dele. Você imagina a dor que é perder um filho… dói muito”, diz o pai de Douglas.
Aila está bem de saúde. Um vídeo foi gravado no hospital, onde a menina segue internada, em observação.
A encosta veio abaixo e arrastou o imóvel onde Aila morava com a família, no bairro Independência, a 10 quilômetros do centro de Petrópolis.
Um vídeo registrou o momento do deslizamento: “Tem gente gritando? Ô meu Deus, de quem é essa casa?”.
Além do pai, Aila perdeu o irmão de 8 anos e a avó.
Chuva acima da média
Choveu nesta sexta (22) em Petrópolis o esperado para o mês inteiro, de acordo com o Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden). A Defesa Civil informou a ocorrência de 238 deslizamentos na cidade.
Petrópolis é uma região historicamente de alto risco quando há chuva forte. Há dois anos, 235 pessoas morreram na pior tragédia climática da região.
Na tarde deste sábado, parentes de Aila voltaram ao local do deslizamento em busca de documentos e objetos que ajudem a manter a história da família. Na vizinhança, muita gente decidiu sair de casa.
A chuva diminuiu bastante e foi possível se aproximar. O que se vê é uma montanha de escombros, uma cena muito triste. São móveis, eletrodomésticos, objetos pessoais… Tudo destruído. Dá para ver uma geladeira, uma máquina de lavar, um carro soterrado. Em cima dele, outra geladeira.
“Aqui é um lugar que sempre acontece isso e toda chuva é esse mesmo desespero. Essa mesma correria, o pessoal tem que sair de casa toda chuva que tem aqui em Petrópolis, é essa mesma correria aqui no Alto Independência”, diz Caio.
Mortes e destruição
Outras quatro mortes foram registradas em consequência das chuvas no Estado do Rio de Janeiro:
- uma criança de 8 anos e um adolescente de 14 morreram depois que três casas vieram abaixo numa comunidade em Teresópolis, também na Região Serrana;
- em Arraial do Cabo, na Região dos Lagos, um homem morreu depois de ser atingido por um raio na praia;
- em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, a vítima foi um motorista. O caminhão que ele dirigia capotou na pista molhada e caiu em um córrego.
Também em Duque de Caxias, moradores contaram que a chuva começou a cair com força na madrugada e só parou de manhã. A água invadiu casas e deixou famílias ilhadas.
“Perdi tudo. O que tinha de levantar, levantei. Mas não tem mais, a água inundou tudo”, diz o vigia noturno Flávio Gerônimo.
Na Baixada Fluminense, um homem foi internado em estado grave. A casa dele desabou depois que uma árvore atingiu o imóvel na beira de um rio, em Nilópolis.
Davi da Silva, de 60 anos, teve fraturas no rosto, costelas, braço e coluna. Ele está no Centro de Terapia Intensiva (CTI).
“Eu vi a árvore caindo e levando a casa junto com a árvore, entendeu? Foi muito assustador. Fez um barulho tremendo”, relata o técnico em agroindústria Jonathan Aguiar.
A situação também está complicada no norte e nordeste do Estado, onde rios transbordaram e bairros inteiros ficaram debaixo d’água.