Search
Close this search box.
No Estado do Rio, um estupro é registrado a cada cem minutos

No Estado do Rio, um estupro é registrado a cada cem minutos

Por Rlagos Notícias

17 de outubro de 2021

Compartilhar no WhatsApp

RIO — Passados oito dias, os momentos de terror vividos em um banheiro da Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, permanecem vivos na mulher de 24 anos. Presa por tentar levar uma pequena quantidade de maconha para o namorado, também encarcerado, ela denunciou ter sido obrigada a praticar sexo oral no agente penitenciário Alcides Barbosa de Abreu, que foi autuado em flagrante pelo crime de estupro. “Agora vejo o rosto desse homem em todos os lugares”, conta a jovem, com a voz trêmula. “Não me alimento. Não fico sozinha. A minha vida parou”, continua ela, que acabou solta pela Justiça na última segunda-feira. Uma história de dor repetida aos montes no Rio, que produz uma vítima de abuso sexual a cada cem minutos, em uma média de 14 agressões diárias.

Dados obtidos pelo GLOBO junto ao Instituto de Segurança Pública (ISP) via Lei de Acesso à Informação indicam que, entre janeiro de 2019 e junho deste ano, o estado foi palco de 12.702 estupros. Só no primeiro semestre de 2021, o período mais recente disponibilizado pelo órgão com maior grau de detalhamento, foram 2.506 ocorrências do gênero, em um aumento de 20,4% na comparação com os 2.081 casos computados no mesmo período do ano anterior.

Além de escancarar a absurda frequência dos crimes sexuais, os números também permitem traçar um perfil das vítimas. Em 86,3% dos casos, o estupro é cometido contra mulheres. Na maioria das vezes, ainda de acordo com os registros de ocorrência que abastecem o ISP, o alvo do abuso é de raça parda ou negra.

— As estatísticas mostram que as mulheres pobres são mais suscetíveis a esse tipo de crime. E é importante frisar que estamos falando de um caso efetivamente registrado a cada cem minutos, porque o número real é muito maior, em virtude da grande subnotificação. É comum que a vítima não denuncie por diversos fatores, como vergonha, medo de retaliação e a dependência financeira ou emocional em relação ao agressor — explica Rebeca Servaes, advogada especializada em violência de gênero e presidente da OAB Mulher no Rio.

O cenário descrito pela advogada, em que é comum até mesmo uma relação afetiva entre vítima e abusador, também encontra respaldo nos dados do ISP. O percentual de casos em que o agressor tem algum tipo de parentesco direto, como pais, padrastos e tios — para citar somente os mais frequentes — é de 28,5%. Além disso, em uma a cada 11 ocorrências, o responsável pelo ataque é um namorado, marido ou ex-companheiro. No total, em 37% dos casos, o estuprador é uma pessoa ligada à vítima.

— O Código Civil de 1916, que perdurou até outro dia (foi substituído em 2003), trazia a figura do débito conjugal, em que o ato sexual configurava uma espécie de dívida da mulher junto ao parceiro. E mesmo atualmente ainda há decisões judiciais que tentam negar a existência do estupro marital, seguindo essa mesma linha de pensamento. Então, é uma cultura muito arraigada de naturalizar violências contra a mulher. É preciso um trabalho de conscientização para que, em determinadas situações, as próprias vítimas se reconheçam como tais — diz a delegada Sandra Ornellas, diretora do Departamento-Geral de Polícia de Atendimento à Mulher (DGPAM).

Em 72,6% dos casos, o crime acontece em um endereço residencial, que pode ser ou não a casa da vítima. Na segunda posição, consideravelmente atrás, aparecem as vias públicas, onde ocorrem 8,2% dos abusos sexuais.

Menores são maioria

O perfil de “o inimigo dorme ao lado” nos casos de estupro não se resume aos relacionamentos entre marido e mulher. Mais da metade dos abusos têm como alvo crianças de até 12 anos. Se somados os adolescentes, o percentual de vítimas menores de idade chega a 71,8%. Nesta fatia, a parcela de agressores que também são membros da família sobe ainda mais, chegando a mais de um terço das ocorrências, ou 34,6%.

— Essas crianças se tornam ainda mais vulneráveis à medida que os abusadores são pessoas próximas, que inicialmente gozam da confiança das vítimas, que são frequentemente caladas mediante coação e ameaças. Muitas vezes, elas demoram a expor estes abusos, e em outras, ao fazê-lo, não são sequer ouvidas — detalha o delegado Adriano Marcelo Firmo França, titular da Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (DCAV).

Os números do ISP apontam ainda que a cidade do Rio, onde vivem pouco mais de 40% da população fluminense, responde por 31,3% dos estupros ocorridos no estado ao longo dos 30 meses analisados. Em seguida, vêm os dois maiores municípios da Baixada: Duque de Caxias, com 845 casos (6,7% do total), e Nova Iguaçu, com 792 (6,2%).

Na capital, chama a atenção a grande incidência de abusos sexuais na Zona Oeste, onde ficam todos os dez bairros com mais ocorrências. A lista encabeçada por Campo Grande, Santa Cruz e Bangu, contudo, não inclui as áreas da região com maior concentração de renda elevada, como a Barra da Tijuca e o Recreio dos Bandeirantes.

Compartilhar no WhatsApp

Por Rlagos Notícias

17 de outubro de 2021

Search
Close this search box.

Faça parte do maior grupo exclusivo de noticias da região!

Nosso grupo te da acesso exclusivo as noticias mais quentes e recentes do momento sobre tudo que buscar!