O fenômeno de ter um orgasmo durante o treino, chamado de coreorgasmo, desperta curiosidade tanto entre os praticantes de atividades físicas quanto entre os especialistas. Embora seja raro, esse clímax sexual pode ocorrer durante exercícios intensos. Mas o que provoca essa sensação inesperada?
A ginecologista Fernanda Lellis, médica adjunta do setor de videoendoscopia ginecológica na Faculdade de Medicina da Fundação do ABC, explica que o coreorgasmo é causado pela estimulação dos músculos do assoalho pélvico, juntamente com a contração dos músculos abdominais, do quadril e lombares. “Exercícios como bicicleta, agachamentos e abduções de pernas podem provocar atrito direto no clitóris, especialmente se a mulher usa roupas justas ou tecidos finos,” afirma Lellis. Esse atrito, combinado com o aumento do fluxo sanguíneo na região pélvica durante o exercício, pode levar ao orgasmo.
Por outro lado, a fisioterapeuta Patricia Ferreira Skrotzky, especialista em assoalho pélvico no Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE), ressalta que o esforço físico por si só não é suficiente para causar o orgasmo. “É a combinação de estímulos sensoriais e nervosos, juntamente com uma maior consciência corporal, que pode despertar novas sensibilidades,” diz Skrotzky. Ela destaca que esse fenômeno é um sinal de que o corpo está funcionando bem, com boa circulação sanguínea e uma percepção saudável dos órgãos internos. Mulheres que têm uma forte conexão com seus corpos e estão atentas às suas sensações físicas são mais propensas a experimentar esse fenômeno.
A frequência do coreorgasmo pode variar entre as mulheres e é influenciada por fatores como a sensibilidade individual, o tipo de exercício e a frequência da atividade sexual. Skrotzky observa que algumas mulheres podem atingir o orgasmo mais facilmente na academia, mas isso não exclui a possibilidade de outras também experimentarem essa sensação. Lellis alerta que o uso excessivo de hormônios masculinos, como o “chip da beleza,” pode aumentar a probabilidade de coreorgasmo devido ao crescimento do clitóris.
Ambas as especialistas concordam que não há problemas de saúde associados ao orgasmo durante o treino, desde que isso não seja o objetivo principal da atividade física. “O essencial é frequentar a academia para melhorar a qualidade de vida, o amor-próprio e o bem-estar,” afirma Skrotzky. Lellis destaca que não se deve usar hormônios ou suplementos com a intenção de aumentar a sensibilidade, pois isso pode prejudicar a saúde. Caso o fenômeno ocorra, é importante encará-lo com naturalidade e aproveitar o treino para cuidar do corpo e da mente.
O que é Orgasmo?
O orgasmo é o auge do ciclo de resposta sexual, caracterizado por intensas contrações musculares e uma sensação de prazer que culmina em um estado de relaxamento. Lellis ressalta que homens e mulheres possuem a mesma capacidade de sentir e atingir orgasmos, uma vez que seus órgãos genitais se desenvolvem a partir da mesma origem embriológica. Para as mulheres, o estímulo clitoriano é fundamental para alcançar o orgasmo, e durante o treino, certos exercícios podem estimular inadvertidamente essa área sensível.
Por que o Tema Ainda é Tabu?
Apesar de ser uma resposta corporal natural, o coreorgasmo ainda é um tabu para muitas mulheres. A vergonha ou a falta de informação sobre o tema pode causar desconforto social. “Muitas mulheres não se sentem confortáveis para discutir ou até mesmo reconhecer que têm orgasmos durante o treino,” observa Skrotzky. Essa relutância pode refletir normas culturais e sociais que ainda cercam a sexualidade feminina, tornando mais difícil a aceitação e compreensão dessa experiência.